sexta-feira, março 17, 2006

Homenagem ao Postpunk.


Todos sabem do plano do Malcom McLaren de acabar com o rock n roll, criando a antítese da banda roqueira, os Sex Pistols. Todos eram monitorados e controlados pelo empresário, que criou a imagem negativa associada, à época, ao Johnny Rotten. Aproveitando uma ida do Malcom aos Estados Unidos para encontros com gravadoras, o Johnny conseguiu escapar dos olhos vigilantes do escritório e aceitou gravar um programa especial para a Capital Radio, chamado “O Punk e Sua Música”. Isso foi em meados de 1977.

O interesse da população britânica estava no pico. Ele só era conhecido por causa da entrevista do Bill Grundy, na TV, e algumas histórias inventadas pelo Malcom e vazadas para os jornais. Nem entrevistas ele tinha liberdade de fazer. Para o espanto de todos, o John Rotten que se apresentou no programa era um homem culto, com um gosto musical refinado! Não tocou os óbvios Iggy Pops e MC5s que já eram clichês em citações de outros punks. Tocou reggae, Captain Beefhart, Peter Hammil, Can e outros grupos e estilo de música que tinham como denominador comum o experimentalismo sonoro. Falou um inglês educado, refinado e deixou claro que para ser rebelde, não é necessário ser/fingir ser burro e ignorante. Pelo contrário!

Hoje esse programa de rádio é considerado a espinha dorsal do que viria a ser o post-punk, o movimento musical mais interessante da história do rock n roll, mas também o mais ignorado. Com o final dos Pistols, os punks se dividiram em duas linhas. Primeira, as bandas que colocaram uma camisa de força no estilo, ditando regras de comportamento e sonoridade. Sham 69, Cockney Rejects, Angelic Upstars, GBH, Exploited e outros. Foram caindo nas próprias armadilhas de patrulhamento ideológico e fizeram uma música repetitiva e chata.

Já a outra linha levou adiante o experimentalismo. Nada era proibido. Claro que todos abominavam o rock tradicional, odiavam o Chuck Berry, considerado o pai do rock chato (com razão!) e não queriam nada a ver com as amarras que o punk tradicional estava impondo. Foi uma época muito criativa, na qual semanalmente havia lançamentos importantíssimos e a gente não podia perder um. Au Pairs, Gang of Four, Killing Joke, Magazine, Pere Ubu, Devo, Pop Group, Slits, só para mencionar alguns.

Foi nesse clima que a Plebe Rude foi formada. Isso corre no nosso sangue até hoje. Para uma pesquisada visual desta época, veja o filme Urgh! – Music War. Não é difícil de baixar no e-mule. Quem sabe inglês, vale muito a pena a leitura do livro Rip It Up and Start Again, do Simon Reynolds (vejam o site do autor ) . O post-punk foi tudo!

quarta-feira, março 15, 2006

Resultado da Votação (Sem Urna Eletrôncia!)

Gostei muito da votação! Alguns de vocês desencavaram músicas que nem eu me lembrava mais que existiam! Vou levar o set para o Philippe para dar um jeito de incluir aquelas que ainda não estão no repertório, como Outro Lugar, Nunca Fomos, Seu Jogo e Pressão Social. Claro que, como muito de vocês sinalizaram corretamente, Seu Jogo sem o Jander fica bem diferente. Quem teve oportunidade de ver a Plebe por volta do lançamento do Mais Raiva do que Medo, já viu o Philippe cantando essa música. Fica diferente, ganha outra coloração, o resultado sendo positivo. Vamos ver se a gente consegue. Pressão e Nunca Fomos são favoritas minhas para tocar ao vivo. Quando a Plebe engatar, depois do tão esperado lançamento do R ao Contrário (em breve, amigos!), queria fazer um show fechado para o fã clube, tocando só desconhecidas e covers. Segue, abaixo, o resultado final, em ordem de votação, as 12 mais.



PROTEÇÃO
Até Quando esperar
CENSURA
BRASILIA
CÓDIGOS
Luzes
JOHNNY VAI A GUERRA
Outro Lugar
NUNCA FOMOS TÃO BRASILEIROS
SEU JOGO
BRAVO MUNDO NOVO
Pressão Social

terça-feira, março 14, 2006

Comida é pasto!


Enquanto a dream-list dos plebeus está sendo compilada – resultados amanhã, votações enceram à meia-noite! – dedico o post de hoje à uma de minhas paixões: a culinária. Não qualquer uma, mas a que considero a mais rica, a mais diversificada e a mais gostosa: a brasileira (e olha que isso vindo de mim, uma pessoa avesa ao nacionalismo fervoroso, é um elogio e tanto).

Por incrível que pareça, a nossa culinária é uma das menos documentadas, em termos históricos, do mundo novo. Os espanhóis, desde o início da colonização das Américas, produziram livros e ensaios sobre a utilização dos temperos, legumes, animais e outros comestíveis encontrados nas colônias em suas receitas. Já os portugueses, bulhufas! Isso não é de espantar. Quem leu Raizes do Brasil, do Sérgio Buarque de Hollanda, foi exposto à falta de organização, também chamda prejorativamente de preguiça, dos nossos colonizadores. Isso gerou o Brasil que vemos hoje: estado ineficiente, educação relegada, economia controlada e caos urbano, só para mencionar algumas das conclusões do livro. Não é de se esperar que fossem organizados no registro culinário.

No entanto, isso ajudou em muito a formação de nossa rica culinária. As outras marinhas tinham regras rígidas sobre comida à bordo. Os mantimentos eram controlados, os pratos preparados conforme um planejamento prévio e até como e quando os marinheiros deveriam comer era sujeito a procedimento padrão. Na marinha lusitana, não. Gulosos por natureza, curiosos na matéria do estômago, os portuguêses não poupavam esforços em comer bem nas suas naus, que saiam lotadas das colônias com os mais variados temperos, carnes de caças em conservas e frescas, frutas, legumes, raízes e outros comestíveis. Adaptavam tudo à sua rica cozinha, misturando os gostos, criando pratos novos.

Chegando ao Brasil não foi diferente. Usaram a mandioca, o caju, os peixes. Trouxeram temperos da Índia, da Ásia. Com eles, vieram os escravos com suas próprias culturas. Permitiram a vinda de imigrantes, italianos, alemães, poloneses, entre outros, que também contribuiram. Em fim, uma mesclagem sem precedentes em termos de colonização.

Como não havia regras, não existia o registro, cada região desenvolveu sua própria culinária. Do norte ao sul, de estado em estado, há pratos e gostos novos para serem experimentados e saboreados. Essa é uma das coisas que mais aprecio em tocar na Plebe, a possibilidade de tocar nas mais diversas cidades e experimentar a cozinha local. Sempre me surpreende, sempre saio satisfeito. Quando a gente voltar a excursionar, vou pedir aos leitores sugestões nas cidades em que iremos tocar.

Hoje em dia, mais que uma festa, mais que um show, o que gosto é de sentar com os amigos em torno de uma refeição e jogar conversa fora. De preferência, de nossa culinária, do churrasco do Rio Grande do Sul, passando pelo barredado do Paraná, o cuzcuz paulista, a comida mineira, as muquecas baianas e capixabas, o peixe na telha goiano, o café da manhã na floresta amazônica, o tacacá, o tucupí, o acarajé..... gosto de tudo, lambo os dedos e peço mais. Com uma exceção: a pizza brasiliense. E como insistem em assá-la!