sexta-feira, abril 28, 2006

Dia Internacional da Educação

Fiquei muito feliz quando liguei a TV, ontem, e vi o MV Bill fazendo propaganda do Dia Internacional da Educação. É hoje, minha gente, 28 de abril! Fiquei frustrando quando o comercial chegou ao fim e não era patrocinado pelo Governo, mas sim pela Unicef. Ingenuidade de minha parte pensar que alguém no nosso governo está preocupado com a educação.

Estudos mostram que a falta de educação formal é responsável pela violência, desemprego, pouca produtividade dos trabalhadores, falta de saúde e até a corrupção. Epa, acabei de descrever o Brasil!

Sempre achei que era teoria da conspiração, mas começo a acreditar quando dizem que os oligarcas nordestinos freiam avanços na educação para não perder o voto de seus rebanhos. Hoje começo a achar que é verdade.

Já imaginaram um Maranhão educado? Iriam derrubar o Sarney e promover queima do livro Marimbondos de Fogo. Uma Alagoas letrada? Tchau Renan. Até nunca mais Collor!

É significativo que o Dia Internacional do Trabalho seja dois dias após o da Educação, pois esta precede aquele. Educação é fundamental para se ter um bom emprego. Mas estamos longe de atingir esse sonho. Vamos continuar disfarçando nossa incompetência em ser um país do futuro com futebol, carnaval e pagode. Que disperdício.

segunda-feira, abril 24, 2006

Pop subversivo.


Muitos vão tentar me internar, outros vão achar que perdi a noção do ridículo, portanto acho bom sentarem antes de ler, porque vou falar bem de quatro conjuntos assumidamente pop dos anos 80s. Na verdade, à época, eu achava-os insuportáveis, escapismo barato, ópio para o povo. Gozado como as aparências enganam. Por trás das músiquinhas açucaradas e fáceis de assimilar desses conjuntos, rolava muito mais que aparentava.

Contextualizando, no início da década de 1980, o post-punk era a coisa mais excitante em termos musicais que havia. Conjuntos como o Pop Group, Slits, PiL, Magazine, só para mencionar alguns, debatiam e colocavam em prática a subversão do rock, tentando torná-lo mais político, sem ser dogmático; trazê-lo ao povo, sem ser popular; expurgá-lo dos clichês, sem deixar de ser divertido. Esses objetivos eram muito debatidos entre os músicos e na imprensa especializada. Mas falharam numa coisa: tornar o rock digerível e popular às massas.

ABC, Heaven 17, Associates e Scritti Polliti cresceram ouvindo o som do post-punk (e do punk também) e sendo bombardeado por essa retórica que era debatida nos bastidores. Quando chegou a vez deles tomarem as rédeas de suas composições, tentaram um caminho diferente. Ao invés enfiar goela abaixo um som difícil de assimilar, optaram por deixá-lo o mais doce e tragável possível, de criar um pop que todos assimilariam bem, mas que traria no seu coração as mensagens e subversão do post-punk. Para tanto, optaram pelo computador, pelo sintetizador, algo definitivamente post-punk, no sentido de exorcizar o “Chuck Berry” do rock n’ roll. Optaram por produções primorosas, disfarçando um conteúdo politicamente volátil como música descartável.

O ABC, vindo de Sheffield, a cidade industrial mais socialista da Inglaterra, adoravam as letras do Gang of Four, que conseguiam politizar até uma transa, como na música Natural Is Not In It. Muito letrados, fizeram uma série de letras no mesmo veio, falando de oferta e demanda, de contratos subliminares e da socialização dos papéis dos sexos. Só que na hora da música, pegaram o Trevor Horn, conceituadíssimo produtor, e falaram: torne nosso som tragável para as massas. Resultado: o primeiro disco, Lexicon of Love, se torna sucesso mundial. Só que ninguém tinha idéia do que estavam ouvindo.

O Heaven 17 começou com a separação do Human League em dois times. Quando o Martyn Ware e o Ian Craig Marsh deixaram a banda, formaram primeiro o British Electronic Foundation – BEF, que não era uma banda, mas sim uma corporação musical, que geraria uma série de afirmações musicais importantes. Conseguiram algo imaginável: assinar com a Virgin, uma mega-gravadora. Pelo contrato, tudo que produzissem teria que ser lançado, e o que estourasse teria que ser repetido. Primeiro, para não assustar os executivos, lançaram o Heaven 17, que foi um estouro. Tudo bem, você torce o nariz, mas veja o primeiro compacto: (We don't need this) Fascist Groove Thang, uma música alertando o mundo sobre as eleições simultâneas do Reagan, nos EUA, e a Thatcher, na Grã Bretanha. Um pop dos mais pops, tinha tudo para chegar no top dez, mas foi banido pela BBC, por ser político demais. Com o sucesso do Heaven 17, Martyn e Ian financiaram um monte de outros projetos, não tão pop assim.

Saca só a capa do primeiro disco. Para mim, estão tentando avisar que estão nessa como infiltrados no sistema, pegando o dinheiro e usando para algo mais nobre. Talvez os “robin hoods” do pop?

O Scritti Polliti e os Associates seguiram a mesma trilha, conseguiram colocar nas paradas músicas acessíveis, porém examinando mais de perto, altamente inflamáveis. O problema todo é que a fórmula pop que inventaram – sim, ainda por cima tinham um som característico – foi imitada por vários outros, a maioria manés, sem uma base conceitual, que faziam pop por fazer pop e levar a vida de pop-stars. Tudo que o punk e o post-punk lutaram tantos anos contra. Muito desses vocês conhecem: Duran Duran, Eurorythimcs, Culture Club, Simple Mindes, etc.

O ABC e o Human League se revoltaram contra isso e substituíram seus teclados por guitarras, suas baterias eletrônicas por bateristas de carne e osso. Eles perceberam que geraram uma geração sem conceito, nem base. Sendo antenados, previram que o pop voltaria para as guitarras, para as raízes. Mas seus fãs não acompanharam a mudança, preferindo ficar com os falsos profetas do novo pop, mencionados acima.

O lado ruim disso é que, para mim, pelo menos, a música continua sendo difícil de ouvir. Muito pop. Mas tiro o meu chapéu pelo maquiavelismo do esforço.