quinta-feira, janeiro 25, 2007

A Gravação de Plebe Rude III

Vocês sabiam que a única razão que o terceiro disco se chama simplesmente Plebe Rude é que a gente não conseguiu chegar a um acordo quanto ao nome? Só esse fato já é suficiente para imaginar como foram as sessões de gravação. Não chegamos a um consenso quanto ao produtor, então trabalhamos com três: Roberto Reis, Armando Telles e, novamente a bordo de um projeto da Plebe, o Renato Luiz.

O Roberto Reis e o Armando eram nossos técnicos de palco. Fomos convencidos de que, se são bons ao vivo, fariam um trabalho legal no estúdio. Só que há uma diferença muito grande entre os dois ambientes e o que a banda mais precisava naquele momento era de um produtor com opiniões e liderança forte, não de dois técnicos de som. Na verdade três, pois o lado conservador da Plebe teve voto forte ao trabalhar pelo terceiro disco em seguida com o Renato Luiz. Deveríamos ter partido para produtores de nome, outros estúdios, outros pontos-de-vista, mas não, ficamos no mesmo caminho já trilhado nos outros discos.

A Plebe Rude é uma banda polarizada no sentido que há uma dualidade de sentimentos e emoções rolando. Mesmo caminho na produção, outra estratégia na música. Isso que sempre me deixa bolado. Estávamos partindo para um disco experimental, bastante ousado, mas fomos extremamente conservadores na sua produção. Chegamos ao estúdio, para variar, vindos de uma série de shows. Quando não estávamos tocando, cada um estava na sua, o Jander isolado em Mendes, o Gutje armando as suas, o Philippe recuperando de uma separação e eu começando a estudar à noite na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Ou seja, mais uma vez, nada de coesão e foco no que estava sendo feito.

Não é que tínhamos desistido da Plebe, é que faltou uma pessoa para dar uns tapas na gente e falar: olha, a Plebe são vocês quatro, lavem a roupa suja, se unam, porque a vida de vocês está em jogo. Realmente, nossa visão à época era míope, para não dizer completamente cega.

O gozado é que o disco reflete uma postura coletiva de ousar. O Philippe insistia em mostrar que éramos excelentes músicos, então incluía em suas composições acordes e arranjos complicados, muitas vezes deixando de lado o simples e óbvio que sempre deram excelentes canções. O Jander fascinado pelo som da viola de Elomar e de outros músicos regionais, trouxe essa influência também para o estúdio. Gozado que os dois, sempre antagônicos, se uniram para influenciar no que viria a ser o som de nosso terceiro e último disco de estúdio pela EMI.

A única música feita em conjunto foi Plebiscito, que era um dos nomes cotados para o disco. É a mais simples do disco, baseada numa linha de baixo que trouxe, inspirada nos Comsat Angels. Só que de CA não ficou nada. Com o único riff rock n roll do disco e uma parte do meio bem energética, é a faixa que guarda alguma referência aos primeiros dois discos. As outras são obras de masturbação musical, ao meu ver. Não que sejam ruins, mas não eram o que a Plebe necessitava naquele momento. Toda bagagem punk e pós-punk foi atirada no lixo. Tanto é que hoje em dia não tocamos nenhuma faixa desse disco. Para comentários faixa a faixa, checar o site.

A gravadora sacou isso e tentou nos avisar. Não queriam lançar o disco na época prevista. Queriam nos dar mais tempo para gravar outras músicas. Queriam que a gente usasse uma letra do Cazuza. Não ouvimos, insistimos que fosse lançado. Foi. Um tiro na água. Olhando para trás, fazendo a minha culpa, acho que poderíamos ter atendido aos pedidos da EMI sem comprometer a nossa imagem. Mas éramos jovens, tão jovens....... tínhamos todo o tempo do mundo (achávamos).

E as gravações? Totalmente sem comando. O Renato Luiz, apesar de excelente técnico de som, não era um produtor, suas opiniões se limitavam ao lado técnico da gravação. Os outros dois, coadjuvantes de quinta, não participavam em nada. André, Philippe, Jander e Gutje achando que estavam ousando muito, dando um importante passo de evolução no som da banda, não percebendo os erros que estavam cometendo. Todos se achando os melhores dos músicos por estarmos compondo coisas complicadas, com sotaques regionais. Daí vem o Renato Russo, faz um disco de rock, só com três acordes, belíssimas canções que qualquer um canta junto, e vende mais de cinco vezes do que o Plebe Rude III. Lição aprendida. Faltou um líder no estúdio, faltou uma voz que falasse igualmente para os quatro.

A EMI não teve interesse nenhum em divulgar o disco. A relação gravadora/banda se deteriorou a tal ponto que, numa entrevista (que foi marcada pelo empresário da banda, não pela gravadora, como é de praxe) a gente rasgou o símbolo da EMI. Foi a gota d’água. No dia seguinte, estávamos oficialmente barrados do prédio em Botafogo. Uma maneira bem direta de dizer: estão despedidos.

23 comentários:

Anônimo disse...

Muito louvável esta tua postura de assumir os erros cometidos na gravação do disco. Porém vocês eram jovens e o fizeram com boa vontade (eu acho!!) e é isso o que realmente importa. E tuas palavras ainda demonstram a importância de um disco para um verdadeiro artista.

Junior SSA-BA

F3rnando disse...

Podiam voltar a tocar "A Serra", a letra é bem atual. Agora com um paulista na banda, quando forem tocar em SP troquem pra "O Serra" (ha...Piada Infame)

CA®I0CA disse...

PARA MIM O PLEBE III DEVERIA SE CHAMAR NUNCA FOMOS TÃO BRASILEIROS,E O 2º ALBUM SOMENTE PLEBE RUDE

A MINHA PREFERIDA É VALOR E LONGE

Anônimo disse...

E aquele lance ser produzido pelo Ezequiel Neves ( e músicas de Cazuza ou Raul Seixas ) ? Acho que esse álbum segue aquela velha máxima : primeiro álbum diz se a banda veio para ficar , segundo o teste de fogo e o terceiro geralmente a banda fazo que quer , no caso , artisticamente .

Anônimo disse...

Apesar dos pesares, discaço! Puta som de bateria, melhor que em Concreto e Nunca Fomos. Destaco Plebiscito, Um Outro Lugar, Valor (grande canção e grande letra!), Segunda Feriado e Repente.
Diferente de todos os discos lançados na época e eis aí seu valor.

André Mueller disse...

Eu gosto do disco, só acho que veio na hora errada. Ele mostra que a Plebe estava anos-luz à frente da onda. Dez anos depois, virou moda misturar ritmos regionais com rock. Dessa vez, a crítica louvou, com a Plebe crucificou, vá entender.

E com certeza se a gente estivesse unido na gravação, seria um tiro de canhão.

Anônimo disse...

Ele influenciou quem ou qual estilo aqui no Brasil ? A turma do mangue-bit gostam muito do Psicoacústica , do Ira ! , e que é do mesmo ano (88). No PR III há violas ...atualmente há uma banda de Curitiba que usa esse instrumento também

Anônimo disse...

1988, me lembra o primeiro holywood rock, q o ira esculhambou o festival, com o escandurra quebrando a guitarra,a legião se recusou a participar, com o renato russo dizendo q pra esse tipo de festival existia bandas como o capital, o show dos titãs e da plebe rude!

Anônimo disse...

Não se ressinta de que a combinação obra X produtor X momento musical não tenha sido a ideal. É da vida.
O que eu acho foda é que o nível geral do público, em relação à exigência musical, tá lambendo rodapé e caindo.
Portanto, ousadias musicais serão cada vez mais raras e menos aceitas.
Abs

Anônimo disse...

Porra, divino! vai posar de madalena arrependida? ah que se foda! vcs fizeram o que deveria ser feito. a história de vcs é bacana pra caramba e, independentemente do disco que vcs fizessem, a geladeira iria rolar pq vcs incomodavam e ainda eram "má influência" em termos de contesatação à primma donna roqueira da gravadora.
abs

PS: só para manter a tradiçaão: GURU DE MERDA METAL, VOU ARRANCAR OS TEUS DENTES NA PORRADA! VÁ FAZER MÚSICA PRA TRAVECO E SAI DA MINHA FRENTE!

Anônimo disse...

1988 foi o começo da grande turbulência para o rock brasileiro e a cultura em geral. Era o fracasso do Plano Cruzado 1 e 2 e o país estava cada vez se afundando mais. Era o início de agendas cheias de buracos, pois os contratantes estavam sem din din. Quanto a Plebe, que me lembro, também era o último disco sob contrato da EMI, certo? E pelo visto, pela pisada na bola, sem a menor chance de renovação...
Quem reinava nessa época era o Engenheiros, com várias músicas em rádio...
Lembro-me muito bem do show de lançamento do disco no Dama Xoc, em SP.
Ninguém entendeu "Repente"...

Anônimo disse...

pisada na bola é o caralho! vai gravar o q, vai gravar "brasil"? ah, não fode! a emi não iria renovar com a banda de jeito algum. naquela época, segundo a lógica mercadológica, a plebe ali era produto com a validade vencida. eles deveriam era ter radicalizado mais ainda na proposta na época.

só falta agora vagabundo querer que a plebe fizesse igual ao rpm! fala sério!

PS: MORRA, GORDA ROCK ESTRESSE! SE A PSICOSE DE VCS CONTINUAR PRA CIMA DE MIM, TAMBÉM VOU ABRIR EXCEÇÃO E BATER EM MULHER. OU MELHOR, GORDA ROCK ESTRESSE NÃO É MULHER!

TÁ COM PENA? LEVA ESSA GORDA MALUCA PRA VC! (NAZARENO MODE ON)

Anônimo disse...

Muita gente anonima nesses comentários sobre os discos.

Porque será?

Esse útimo aí pereceu ser o Gutje falando.

Anônimo disse...

Concordo com ele, e muito mais ainda com o Dênis.

Anônimo disse...

Amanhã será a vez do mais raiva do que medo.

Anônimo disse...

andré, só tenho a agradecer essa sua disposição em analisar criticamente seu trabalho...raríssimo ver algum artista relembrar épocas passadas e tornar isto claro ao público...
adoro seu blog e a partir dele, conhecendo melhor suas opiniões, passei a admirar ainda mais a plebe. Obrigada!

F3rnando disse...

O Manfredo falou que o Capital era banda pro Hollywood Rock, não a Plebe, Dunha.

Anônimo disse...

André quais estúdios se podiam grvar naquela época pois tudo era centralizado nas mãos da gravadora ao contrário de hoje , onde as gravadoras/selos terceirizam tudo ao ponto que o artista chega com o master e entrega pra eles

Anônimo disse...

Anonymous = Gutje ?????

Anônimo disse...

O problema é que, para vender bem, a coisa tem que ir ficando cada vez mais pop (como aconteceu com a Legião). Infelizmente o publico brasileiro é brega. Para se atingir uma grande vendagem, a maioria brega do mercado precisa gostar. Musica que vende é cançãozinha que cola na cabeça do povo bundão, tipo Ivete Sangalo.

Mas acontece que o brega, apesar de vender bem por um tempo, esse vive do passado, não evolui e não tem futuro.

O futuro está nos formadores de opinião. Quando a banda é boa mesmo, ela cria um consenso entre os formadores de opinião, mas só vende mesmo depois de muitos anos, quando o povo bundão passa a conhecer e entender. Muitos continuam vendendo mesmo depois da morte.

Nesse ponto, acho que a Plebe não vacilou tanto. Mesmo que fosse em troca de muito dinheiro, voces não podiam virar um "rpm" da vida. Tinha que inventar outra coisa mesmo. E a parada "regional" foi a opção mais digna.

Porém, concordo que foi um certo vacilo tentar "complicar" as musicas. Nesse ponto voces não foram nada conservadores. Acho que a Plebe deveria, mesmo que colocando toque regional, ter feito musiquinha "punk" light e simplória, com bons slogans, curtos e grossos...

O problema é que, na regionalização, o grande publico regional pode achar o disco "punk" demais, enquanto o pequeno publico "punk" (formador de opinião), esse pode achar o disco "MPB" demais.

Talvez voces tenham sofrido uma certa influencia do Paralamas- do"Alagados", que buscou mais publico regionalizando geral, misturando musica africana, fazendo a coisa soar mais como MPB do que rock.

Esse disco do Paralamas deu certo, vendeu bem, mas foi uma mudança arriscada. Eu, pelo mesmo, não gostei. Preferia o Paralamas antigo, estilo"Vital e sua Moto".

Voce tambem não deve ter gostado da breguetificação da Legião Urbana, que no começo soava como Joy Division e no final parecia mais como Jerry Adriani/Wanderley Cardoso.

Muitas bandas, na busca de ampliar mercado, cometem esses erros. O Capital foi um. Sem querer desmerecer a classe trabalhadora das empregadas domésticas, o Dinho estava virando o sex symbol das empregadas domesticas brasileiras, e a banda ia atrás disso.

Para mim, o Capital ressucitou de verdade nas regravações do Aborto Eletrico, que eu achei excelente, mas isso deve ter deixado as domésticas com uma certa tonteira e dor de cabeça.

Mas quando chega lá dentro da gravadora, então rolam as pressões, e a coisa muda de figura. A banda precisa vender ao maximo, e assim começam a inventar estratégias que mexem na musica, que modificam a alma da banda.

No caso de voces, Paralamas e outros, a tentativa "regional" foi até louvavel. Teve gente que fez pior, que virou brega total.

Anônimo disse...

No site diz que o PR 3 vendeu 50 mil , o que daria hoje nesses tempos de pirataria física e virtual um disco de ouro para a banda . Esse último álbum do Capital foi legal ter regastado material do Aborto mas comercialmente não foi aquela coisa e quantas faixas teve de trabalho ....três ( uma deles Anúncio com uma versão mais "light" com violôes e teclados ) . Escutei um tempo atrás que há uns seis anos o Jorge Davidson pretendiar resgatar o material do AE com a Plebe .

CA®I0CA disse...

ANDRÉ PULA LOGO PARA O MAIS RAIVA DO QUE MEDO,ESSE DISCO É O QUE TEM MENOS INFORMAÇÃO DE COMO FOI GRAVADO...

O GUTJE É UM CARA ENIGMÁTICO DEVIA APARECER MAIS VEZES RS RS RS
WWW.SOOFIM2005.BLOGSPOT.COM

Anônimo disse...

caramba, divino! esse anonimo de imediatamente aí de cima é um sujeito muito idiota! que imbecil conservador! que otário!