sexta-feira, janeiro 26, 2007

A Gravação de Mais Raiva do Que Medo

Mais Raiva do Que Medo tinha tudo para ser o disco perfeito da Plebe Rude, que havia retornado ao seu núcleo original, Philippe e André X. Muita gente esquece que nós dois tocamos meses juntos, na biblioteca da casa do Philippe no Lago Norte, onde compusemos Pressão Social e Nada (versão original) entre outras. Isso no início dos anos 80s. Depois que entraram o Gutje e, meses depois, o Jander. Nós que cunhamos o conceito “Plebe Rude”, seu som e sua direção.

Voltando ao tema, nos vimos de novo como sendo a Plebe, depois de três disco, vários sucessos, shows a rodo, duas brigas internas que geraram baixas, de queridinhos da gravadora a ser despedido sem nenhuma explicação. Então foi baixar a cabeça e fazer um exercício de lição aprendida. E aprendemos. Nas novas composições, o resgate das origens pós-punk e punk 77, temperadas com o que estava surgindo na cena naquela época. Lembro-me que ouvíamos muito Soundgarden, Body Count, Nirvana, Mudhoney e, pasmem, Metallica. Nada de tentar provar a destreza musical, nos focamos em compor canções fortes, que fizessem a cabeça balançar e pensar ao mesmo tempo.

Foi uma época que me lembro com muito carinho. O Philippe morava a algumas quadra da minha casa. Ia para lá a pé, ele pegava o violão, seu caderninho de idéias e a gente ficava horas compondo. Estávamos confiantes e entusiasmados com a possibilidade de gravar um novo disco, dessa vez pela independente Natasha Records, que seria distribuída pela Sony.

Fizemos tudo certinho, só entramos no estúdio com as músicas redondas e prontas. Escolhemos um produtor novato, o Paulo Junqueiro, que já havia trabalhado em outras gravações de bandas nacionais, mas nunca como produtor. O estúdio seria o famoso Nas Nuvens. Todas as cartas indicavam que seria um discasso.

Então o que houve de errado? No produto final não transparece a força das canções, o som meio pífio, o que aconteceu? Acho que o que matou a grandeza do disco foi a produção do Paulo Junqueiro. Cheguei à conclusão que técnico de som nunca dará um bom produtor – a parte técnica fala mais alto do que a artística. No caso do Paulo, nem suas habilidades técnicas foram usadas, ele simplesmente não se interessou. Acostumado com Barão Vermelho e Kid Abelha, não sabia o que fazer com aquelas músicas e deu o mesmo tratamento dado às bandinhas pop com quem havia trabalhado.

Durante o mês de gravação, não deu um pitaco sequer. Isso nos assustou, pois imaginávamos que seria igual ao Hebert, que atuou como produtor, psicólogo e amigo. O Paulo foi a antítese disso! Quando chegou a hora de gravar os vocais, fomos mostrar as letras e ele não quis ler! Disse que letra não importa!!! Foi aí que sacamos que tinha algo errado no ar.

Outro bola na trave que fizemos foi não entrosar os bateristas que fariam a gravação o suficiente antes de entrar nos estúdios. Teve músicas que eles pegaram na hora, e isso não é bom na interpretação.

Uma historinha sobre o Paulo. Tinha outra banda gravando no Nas Nuvens, cujo nome esqueci, mas era bem rock comercial, o contrário de tudo que a Plebe era. Ele tinham um pôster que penduraram na cantina. No pôster, uma mulher pelada. Coisa de adolescente mesmo. Um dia, vendo aquilo, desenhei umas imagens pornoeróticas em cima. Acho que também desenhei em cima do logo da banda. Os moleques ficaram ofendidos! Foram reclamar para o Paulo, que ao invés de me defender, mostrando a tempestade em copo de água que estavam fazendo, me fez ligar e pedir desculpas. Imagine a situação: “olha, desculpa pelas pirocas e peitos que desenhei no seu logo, enxuguem as lágrimas, nunca mais vou expor vocês a imagens tão fortes, eu prometo.” Foi ridículo.

Noutra noite, eu estava defendendo que o De Falla era melhor que o Midnight Blues Band (banda de blues do Barão/Kid Abelha) e o Paulo ficou ofendido. Como que um cara que acha que MBB é melhor que De Falla pode sequer pensar em gravar a Plebe? Desastre total.

Na mixagem, minha primeira filha, Alice, veio ao mundo. Isso foi em novembro de 1992. Gozado que cada disco da Plebe significa um marco na minha vida. Dediquei todo o esforço colocado na obra à ela.

Insisto, as músicas do MRDQM são muito fortes. Aurora, por exemplo, ganhou um gás com a interpretação do Txotxa e Clemente. Sem Deus Sem Lei, Mais Tempo Que Dinheiro, são músicas que, gravadas de outro jeito, poderiam estar entre os clássicos da Plebe. Aos poucos, quero salvar algumas em shows futuros.

Resumindo, planejamento perfeito, execução dúbia. Assim que vejo esse nosso quarto disco, do qual gosto muito. Foi importante, pois afirmou a determinação minha e do Philippe de continuar com a Plebe Rude.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A Gravação de Plebe Rude III

Vocês sabiam que a única razão que o terceiro disco se chama simplesmente Plebe Rude é que a gente não conseguiu chegar a um acordo quanto ao nome? Só esse fato já é suficiente para imaginar como foram as sessões de gravação. Não chegamos a um consenso quanto ao produtor, então trabalhamos com três: Roberto Reis, Armando Telles e, novamente a bordo de um projeto da Plebe, o Renato Luiz.

O Roberto Reis e o Armando eram nossos técnicos de palco. Fomos convencidos de que, se são bons ao vivo, fariam um trabalho legal no estúdio. Só que há uma diferença muito grande entre os dois ambientes e o que a banda mais precisava naquele momento era de um produtor com opiniões e liderança forte, não de dois técnicos de som. Na verdade três, pois o lado conservador da Plebe teve voto forte ao trabalhar pelo terceiro disco em seguida com o Renato Luiz. Deveríamos ter partido para produtores de nome, outros estúdios, outros pontos-de-vista, mas não, ficamos no mesmo caminho já trilhado nos outros discos.

A Plebe Rude é uma banda polarizada no sentido que há uma dualidade de sentimentos e emoções rolando. Mesmo caminho na produção, outra estratégia na música. Isso que sempre me deixa bolado. Estávamos partindo para um disco experimental, bastante ousado, mas fomos extremamente conservadores na sua produção. Chegamos ao estúdio, para variar, vindos de uma série de shows. Quando não estávamos tocando, cada um estava na sua, o Jander isolado em Mendes, o Gutje armando as suas, o Philippe recuperando de uma separação e eu começando a estudar à noite na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Ou seja, mais uma vez, nada de coesão e foco no que estava sendo feito.

Não é que tínhamos desistido da Plebe, é que faltou uma pessoa para dar uns tapas na gente e falar: olha, a Plebe são vocês quatro, lavem a roupa suja, se unam, porque a vida de vocês está em jogo. Realmente, nossa visão à época era míope, para não dizer completamente cega.

O gozado é que o disco reflete uma postura coletiva de ousar. O Philippe insistia em mostrar que éramos excelentes músicos, então incluía em suas composições acordes e arranjos complicados, muitas vezes deixando de lado o simples e óbvio que sempre deram excelentes canções. O Jander fascinado pelo som da viola de Elomar e de outros músicos regionais, trouxe essa influência também para o estúdio. Gozado que os dois, sempre antagônicos, se uniram para influenciar no que viria a ser o som de nosso terceiro e último disco de estúdio pela EMI.

A única música feita em conjunto foi Plebiscito, que era um dos nomes cotados para o disco. É a mais simples do disco, baseada numa linha de baixo que trouxe, inspirada nos Comsat Angels. Só que de CA não ficou nada. Com o único riff rock n roll do disco e uma parte do meio bem energética, é a faixa que guarda alguma referência aos primeiros dois discos. As outras são obras de masturbação musical, ao meu ver. Não que sejam ruins, mas não eram o que a Plebe necessitava naquele momento. Toda bagagem punk e pós-punk foi atirada no lixo. Tanto é que hoje em dia não tocamos nenhuma faixa desse disco. Para comentários faixa a faixa, checar o site.

A gravadora sacou isso e tentou nos avisar. Não queriam lançar o disco na época prevista. Queriam nos dar mais tempo para gravar outras músicas. Queriam que a gente usasse uma letra do Cazuza. Não ouvimos, insistimos que fosse lançado. Foi. Um tiro na água. Olhando para trás, fazendo a minha culpa, acho que poderíamos ter atendido aos pedidos da EMI sem comprometer a nossa imagem. Mas éramos jovens, tão jovens....... tínhamos todo o tempo do mundo (achávamos).

E as gravações? Totalmente sem comando. O Renato Luiz, apesar de excelente técnico de som, não era um produtor, suas opiniões se limitavam ao lado técnico da gravação. Os outros dois, coadjuvantes de quinta, não participavam em nada. André, Philippe, Jander e Gutje achando que estavam ousando muito, dando um importante passo de evolução no som da banda, não percebendo os erros que estavam cometendo. Todos se achando os melhores dos músicos por estarmos compondo coisas complicadas, com sotaques regionais. Daí vem o Renato Russo, faz um disco de rock, só com três acordes, belíssimas canções que qualquer um canta junto, e vende mais de cinco vezes do que o Plebe Rude III. Lição aprendida. Faltou um líder no estúdio, faltou uma voz que falasse igualmente para os quatro.

A EMI não teve interesse nenhum em divulgar o disco. A relação gravadora/banda se deteriorou a tal ponto que, numa entrevista (que foi marcada pelo empresário da banda, não pela gravadora, como é de praxe) a gente rasgou o símbolo da EMI. Foi a gota d’água. No dia seguinte, estávamos oficialmente barrados do prédio em Botafogo. Uma maneira bem direta de dizer: estão despedidos.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

A Gravação de Nunca Fomos Tão Brasileiros

Devido ao sucesso do Concreto Já Rachou, passamos a maior parte do ano de 1986 na estrada, ou fazendo shows, ou divulgando o disco. A convivência de pessoas tão diferentes por tanto tempo, sob pressão, tendo que cumprir horários e, ainda, o gosto doce, mas nocivo, do sucesso, começaram a mexer com as relações internas dos músicos. Coisas pequenas irritavam. Ainda conseguíamos rir juntos, mas não estávamos mais atuando como equipe, mas sim como quatro indivíduos.

Foi assim que chegamos de novo ao estúdio A da EMI para gravar o segundo disco. A pressão era enorme, todos queriam um outro Concreto Já Rachou. Acontece que não tivemos tempo nenhum de compor músicas novas, não havia espaço na nossa agenda na estrada de ensaiarmos, de atuarmos juntos criativamente. Mas a gravadora queria o disco, então o jeito foi gravar as músicas compostas em Brasília que não entraram no Concreto. Não que elas fossem ruins, mas eram antigas e a vivência dos últimos meses da Plebe as tornaram distantes e pertencentes à outra época.

As idéias novas, três para ser exato, foram apresentadas à pressa e pouco exploradas. O Philippe trouxe A Ida, que considero a sua melhor e mais íntima letra até hoje. Música sensacional, diferente, com pegada e emoção, mas que chegou de forma bem crua ao estúdio, precisando de uma atenção grande de um produtor que não houve – mais sobre isso no final do texto. O que salvou a música e deu o grandor que ela necessitava foi a orquestração do Jaques Morelenbaum, mais uma vez participando de um disco da Plebe. É impressionante como ela evoluiu na estrada. Hoje a tocamos com mais segurança e com uma pegada melhor do que está registrado no Nunca Fomos Tão Brasileiros. Ela foi, naturalmente, escolhida como carro chefe do disco.

O Jander trouxe a pegada esquisita, porém muito Plebe, de Nada. Não tínhamos letra, então aproveitamos uma de uma música bem antiga, de quando a Plebe era só eu e o Philippe. Castanholas deram o toque mágico à canção, que, por ser de difícil assimilação, não agradou aos ouvidos cada vez mais pop dos radialistas. No entanto, virou cult entre os plebeus.

Mas cult mesmo virou Mentiras Por Enquanto. Essa foi composta pelo Philippe e eu numa noite de chuva após assistir um vídeo de Rude Boy do Clash. Fala do turbilhão de emoções que estávamos passando: uma mistura de alegria pelo sucesso, medo do futuro, saudades de Brasília, expectativa de um disco novo que não tinha músicas novas. Adoro quando essa química funciona entre a gente. Até hoje tem gente que nos shows grita: Mentiras!

Tudo certo para gravar, convocamos a mesma dupla campeã do Concreto para fazer a produção. Acontece que o Hebert não era o mesmo, não estava com o foco no disco. Muita coisa estava acontecendo em sua vida: havia levado uma chifrada da Paula Toller, descobrira o álcool, estava cotado para produzir o Gilberto Gil, os Paralamas estavam mudando o estilo – não havia espaço em sua mente perturbada para a Plebe Rude. Na verdade, e isso está claro para quem ouve o disco, não houve uma produção efetiva. Músicas fortes como Consumo e 48 saíram tímidas e insossas no vinil. A falta de produção foi tanta que o Renato exigiu que seu nome aparecesse na capa, e lá está, podem conferir, pois foi ele que conduziu todos os trabalhos, porém como técnico, não produtor.

Fico pensando que, se tivéssemos nos situado e percebido a situação, poderíamos trocar de produtor, o que seria um alívio até para o Hebert. Poderíamos ter trabalhado com outro, tipo Liminha ou Sussekind, e o resultado poderia ser outro.

Considero a capa de Nunca Fomos como uma de nossas melhores. Sua produção foi comandada pela Fernanda, mulher do Dado, junto comigo. As fotos eram de amigos de Brasília, Nicolau El-mor o principal. O quadro da capa especialmente pintado por um artista de Brasília, está hoje inapropriadamente nas mãos de nosso empresário de então, o Arnaldo Bortolom Rosa (que, se estiver lendo, por favor devolva!).

Para mim a gravação do disco foi bastante tumultuada. Como tinha trancado minha matrícula na UnB no último semestre de arquitetura, havia alcançado os dois anos limites para voltar e completar o curso, ou ser jubilado. Então dividia meu tempo entre gravar no Rio e estudar em Brasília. Gastei tudo que havia ganho na turnê do Concreto com viagens de avião. Não raro eu gravar de noite, pegar o avião de manhãzinha, assistir aula, voltar de tarde para mais uma sessão nos estúdios da EMI. Viajava para os shows com régua T e canetas nanquim e ficar trabalhando no quarto de hotel! Mais uma vez, se tivéssemos tido a clareza da situação, teríamos esperado um pouco, parado, conversado, ensaiado mais, composto outras músicas e, daí sim, entrar para gravar.

O disco foi lançado numa época muito infeliz: o maldito plano Cruzado II, quando o Sarney, mais uma vez, enganou a nação e provocou um recesso sem precedentes àquela década. As vendas de todos os artistas caíram, shows se tornaram mais raros e o disco não teve os holofotes que merecia.

Saímos dos estúdios direto para a estrada, com pouco ensaio e exaustos pelos meses que passamos dentro da EMI trabalhando no disco. Isso trouxe muitas conseqüências para a banda, que cada vez mais se polarizava.

Dito isso, preciso reconhecer que é um puta disco, favorito de muitos plebeus e que tem muitas músicas que gostaria de ressuscitar, tipo a já mencionada 48, Nunca Fomos Tão Brasileiros e Nova Era Techno.

terça-feira, janeiro 23, 2007

A Gravação do Concreto Já Rachou

Recentemente estava recordando as gravações do Concreto Já Rachou, realizadas no estúdio da EMI, em Botafogo, RJ, em novembro de 1985. No comando da produção, o Sr. Hebert Vianna, pilotando a mesa, Renatinho Luís. Essa dupla foi responsável pelo excelente som do disco, muito melhor do que tudo que estava saindo à época. Parecia até ter sido gravado e mixado lá fora.

A gente ainda era moleque, não tínhamos noção da importância de estarmos lá, gravando o primeiro disco. Estávamos maravilhados em estar hospedados pela gravadora num hotel em Copacabana (em frente ao Crepúsculo de Cubatão!), com tudo, menos bebidas alcoólicas, liberado. As gravações eram à noite, iniciando às 21 horas e esticando até umas três da madrugada. Seguindo essa rotina por mais de 45 dias, o corpo se acostuma e, de uma hora para outra, você está em horário japonês, só que no Brasil.

As seções eram bastante produtivas. Começamos gravando as baterias e o Gutje tirava de letra. Mais tempo era gasto procurando o som perfeito do que ele desempenhando o seu papel de baterista. Esse era o tipo de cuidado que o Hebert e o Renatinho tinham, nos detalhes. Por isso repito, são os “culpados” pelo som soberbo do disco. Os baixos vieram em seguida, também sem maiores problemas. Lembro-me que fica sozinho com o Renato na cabine de gravação, onde ficava a mesa, gravando minhas linhas, enquanto o resto do pessoal ficava dentro do estúdio jogando vôlei.

As guitarras, obviamente, receberam a maior atenção do nosso produtor Vianna. Cada noite ele apresentava uma guitarra nova para o Philippe e o Jander tocarem. Recordo de uma birra que o Philippe deu, antecipando que o Hebert ia querer que ele gravasse a parte do meio de Até Quando com uma Stratocaster, chegou ao estúdio armado para recusar. Que nada, o Hebert nem sequer cogitou essa idéia. As guitarras demandaram um tempo e carinho enorme para serem gravadas. Dá para notar no produto final.

Depois, as vozes. De novo, sem problemas, tirando o típico nervosismo do Philippe cada vez que tem que cantar no estúdio. Acho que é pela responsabilidade; o que ele cantar, será registrado para todo o sempre. Tinha vezes que todos saíamos do estúdio para deixar ele mais à vontade.

O maior problema eram as visitas. Na hora de gravar voz, a pessoa se sente muito vulnerável, precisando de uma atenção muito grande do produtor e apoio do resto da banda. A Plebe era (é até hoje) uma banda muito querida e de fácil acesso. O estúdio vivia lotado de amigos de Brasília, que viajaram especialmente para estar junto da gente nesse momento histórico, e do Rio, que incluíam membros do Black Future, Paralamas, Zero (que gravava ao lado), Kongo, entre outros.

No aniversário do Philippe, dia 4 de novembro, prepararam uma festa surpresa que quase acabou em desastre quando abriram espumante em cima da mesa. Foi uma bronca só do Hebert e, depois, a coisa ficou mais calma.

Finalmente, chegou a vez dos convidados especiais. O Hebert insistiu para o George Israel comandar o naipe de Seu Jogo. Achamos esquisito ter alguém do Kid Abelha, banda completamente antagônica à Plebe, no disco, mas ele insistiu e o resultado não comprometeu a credibilidade do Concreto. A Fernanda Abreu, ainda na Blitz, fez o backing em Sexo e Karatê, e ainda por cima arrancou suspiros da galera. Mas o grande triunfo foi o Jaques Morelenbaum no violão celo, fazendo a abertura clássica de Até Quando Esperar. Ele ainda viria a tocar com a gente nos próximos dois discos. Uma honra.

Outra coisa que me lembro foi que a gravação foi uma época de engorda. Não era para menos, no hotel tudo liberado, no estúdio, entregas de pizzas e massas toda hora, noite a dentro. Voltamos todos bem mais gordos, especialmente o Jander. Já no final das gravações, fui subir a Pedra da Gávea com uns amigos. Estava tão fora de forma, que desisti no meio. Aquilo me chateou tanto que, meses depois, mais magro, refiz o caminho, fazendo questão de ficar à frente do grupo.

Quando terminou voltamos para Brasília. Isso foi um anticlímax, pois saímos de um período onde éramos o centro das atenções, quando estávamos produzindo diariamente, para uma calmaria sem fim. Bateu uma deprêzinha em todos, que durou pouco, pois, em fevereiro saiu o Concreto. O resto é história. Um história que, infelizmente, está fora de catálogo. Acorda EMI!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

O Lobby da Sacanagem e o Raio Azul.


Um dos fatores mais importantes na adoção de uma nova tecnologia é a formação de um padrão. Existem vários sistemas operacionais bons, mas o mundo escolheu o Windows, que se tornou o padrão, permitindo que uma série de avanços fossem conseguidos para uso mundial. Vejam a dificuldade da Inglaterra que escolheu um padrão de carros (direção no lado esquerdo) em participar do mercado automotivo. Nem sempre a melhor tecnologia é a escolhida, como no caso do padrão de vídeo. Como todos sabem, o padrão é o VHS, que ganhou a escolha em cima do Betamax.

O que poucas pessoas sabem é que um dos players mais pesados, cujas ações determinou essa escolha, foi o mercado de filmes pornôs. A Sony, fabricante do Betamax, determinou, num ato moralista e, pode-se até dizer, de censura prévia, que suas fábricas não atenderiam as produtoras de filmes adultos. Esse mercado estava louco para permitir que as pessoas assistissem seus filmes de conteúdo erótico em casa, via a entrada do videocassete pessoal como a solução de seus problemas. O objetivo, ganhar um público imenso que não se dispunha a assistir pornô em cineminhas de quinta categoria, expondo a sua imagem, correndo o risco de ser visto. Para vocês terem uma idéia do mercado, só no ano passado, nos EUA, a indústria do filme pornô movimentou 3,6 milhões de dólares.

Então, nos meados dos anos 70s, quando a Sony anunciou sua postura moralista, um certo lobby às escondidas foi feito para que a escolha fosse para a outra fita, com menos recursos, o VHS, da RCA. Não foi o único fator que pesou na escolha, mas teve uma forte influência.

Agora, mais de trinta anos depois, o mundo se vê diante de uma nova batalha para a escolha de um padrão, novamente envolvendo a Sony. De novo, é para a escolha de um veículo para filmes caseiros (entre outras utilidades). Trata-se da guerra entre a Sony, defendendo o seu Blu-ray, e a Toshiba, com o HD DVD. Em quem vocês apostam? A indústria pornô, mais uma vez, se vê obrigado a mexer seus pauzinhos (também pauzões e outros órgãos, he he he) para derrotar a Sony, que já avisou: não vai trabalhar com produtoras dos ditos cinemas adultos.

Quem será a Debbie Diamond, a Sylvia Saint, a Linda Lovelace desse novo século? Se depender da Sony, você nunca saberá! Essa é uma batalha para ser vista de perto, ainda por cima que a tecnologia dessas duas mídias tem uma definição tão alta que detalhes nunca vistos antes na telinha de sua casa vão estar gritantes. Isso também vem desafiando os maquiadores de filmes pornôs, onde as atrizes estão nuas, revelando muitas imperfeições que podem broxar o mais lunático adolescente cheio de testosterona.

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